Você, compositor, tem o hábito de ouvir o próprio trabalho?



Quase todo músico que conheço possivelmente já tentou entrar nesse lance de composição. Afinal, sair do comum, criar a própria música, tomar todas as decisões sem ficar preso àquilo que já está pronto e estabelecido, deixar a criatividade fluir ao natural, e se admirar com o resultado final - quem nunca? Nada melhor que transformar em som tudo aquilo que queremos expressar.
Então tomarei outra abordagem sobre esse mesmo assunto: você costuma ouvir suas composições? Pergunto porque muitos tentam compor, mas poucos realmente vão fundo nisso, ouvindo seu próprio trabalho, percebendo os pontos positivos e os que precisam melhorar. Também porque já vi casos de boas composições que nunca foram publicadas por medo e/ou vergonha de seus autores - sim, acontece, principalmente entre os compositores de primeira viagem.


Meu trabalho como compositor não é bem um trabalho, no sentido de lançar álbuns e/ou colocar em plataformas digitais comerciais, visando lucro e presença nas paradas de sucesso. Vejo minha composição mais como terapia ocupacional, em especial nos períodos de menor atividade com bandas - é durante esses gargalos que fico mais inspirado a fazer música nova. Quando estou em alta temporada com as bandas, é mais difícil eu conseguir compor, mas ainda assim, sempre que posso, tento criar algo - exceto quando as atividades de palco andam em níveis extremos, tipo, semanas inteiras de shows, dois a três por dia, por exemplo.
Enfim, coloquei tudo isso para dizer que, além de compor, também ouço o que compus, várias vezes por dia. Parece incrível, mas consigo ouvir uma mesma composição minha repetidas vezes e não enjoar, mesmo já sabendo de cor e salteado o que aqueles arquivos de áudio e/ou vídeo contém (sim, me filmo tocando sempre que componho - assim posso simultaneamente lançar a música no SoundCloud e no YouTube). A cada vez que ouço/vejo algo que compus, percebo certas coisas que, de uma forma ou de outra, poderão servir como dicas para os próximos trabalhos. E mais: hoje cheguei num ponto no qual quanto mais componho, mais quero compor, é uma bola de neve sempre crescente - o ato de eu ouvir meu próprio trabalho também me ajuda a determinar o que quero e o que não quero nas composições seguintes, de forma a tentar nunca me repetir e sempre manter o desafio de ser diferente e original.


Até pouco tempo atrás eu costumava ouvir minhas composições através das caixas de som do computador, e isso me fez pensar que eu talvez pudesse estar incomodando alguém à volta, então, sempre mantive o volume baixo, com o som chegando apenas ao meu home studio, sem interferir no resto da casa. Mas também acontecia muito de essas caixas mascararem algumas frequências, de forma que eu não tinha noção exata daquilo que fiz. Recentemente consegui um excelente e confortável par de fones de ouvido sem fio (Bluetooth 5.0) e, dessa forma, passei a ouvir tudo por eles, com som bem definido, e só para mim. Graças a esses novos fones, agora sei exatamente tudo o que gravei em cada música - e sei como tornar minhas mixagem e masterização um pouco melhores (eu pecava muito nisso no começo, venho tentando melhorar a cada novo trabalho, mas prevejo que os fones me darão um bom upgrade nesse quesito). Além disso, o fato de eu usar esses fones também me permitirá compor com mais tranquilidade e privacidade.

eu compondo com fones em 2006

Meu conselho a todos os músicos que querem se aventurar na composição: ouçam seus próprios trabalhos, mesmo que ainda não estejam prontos. A composição é uma tomada de decisões - nesse caso, decisões quanto à direção que sua obra precisa tomar. É sempre bom ouvir tudo aquilo que vocês já escreveram, a fim de saberem o que fazer depois. Eu mesmo, de tanto ouvir tudo o que compus no meu home studio até hoje, já sei o que pretendo e o que não pretendo fazer nas futuras composições. Façam esse exercício e vejam como funciona.

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