Uma das obras orquestrais mais famosas da história é a "1812 Overture", de Pyotr Tchaikovsky (apesar do título, ela não foi escrita em 1812, e sim muito tempo mais tarde, em 1880, e estreada em 1882) - não apenas pela música em si, mas pelo fato de que, dentre todos os instrumentos da orquestra, constam 16 canhões. Sim, 16 CANHÕES. Imaginem isso bem ao lado dos músicos da orquestra - coitados, saem surdos do concerto (não à toa, atualmente é regra que se use protetores auriculares durante a execução dessa obra)...
Há um relato dizendo que o compositor não gostava do que havia feito. De acordo com a Wikipedia,"Tchaikovsky reclamou a Nadezhda von Meck que ele '... nunca foi um condutor de peças festivas' e que a Overture poderia ser '... muito barulhenta e ruidosa, mas sem mérito artístico, porque a escrevi sem amor'." (artigo original em inglês aqui)
Embora a peça tenha sido composta na Rússia, por algum motivo a mesma ficou associada à independência dos EUA - mas isso é algo a ser procurado por fora, pois a história é longa...
Mas vamos ao que realmente interessa.
Houveram várias gravações de "1812", desde o momento em que surgiram os primeiros dispositivos de registro sonoro. A mais interessante de todas, ao meu ver, é a do disco dessa foto aí em cima, gravado em 1979 pela Cincinatti Symphony Orchestra, conduzida pelo maestro Erich Kunzel. Foi a primeira gravação digital da obra - e, para mostrar toda a potencialidade do que uma gravação digital era capaz naquele tempo, foram capturados vários tiros de canhões de verdade, dos quais 16 foram selecionados para inclusão no produto final. Mas o detalhe é que esses tiros foram incluídos com um volume tão alto, mas tão alto, que dentro da capa do disco há uma lista de conselhos sobre a melhor reprodução do álbum, do tipo "ajustar o anti-tracking para o máximo possível", "não abusar do volume", dentre outros. Conselhos muito reais - se você usar volume muito alto, não apenas o disco vai pular, como também seus alto-falantes não resistirão a tamanho impacto - e, mesmo se forem fortes o suficientes para tal, algumas janelas poderiam ser quebradas, e você mesmo poderia terminar a audição com seus ouvidos sangrando. Os canhonaços gravados aí, se ouvidos com volume muito alto, são LETAIS. É um disco a ser apreciado com muita prudência.
Só para se ter uma ideia, veja como ficaram os sulcos do disco nas partes onde estão os canhões:
fonte: Discogs
E agora, veja o que acontece com o braço do toca-discos quando a agulha passa por esses sulcos:
Tenebroso, não? Se o toca-discos não for realmente MUITO bom, ele não consegue tocar esse LP. Simples assim.
Bom... A foto lá em cima é da minha própria cópia do LP - no caso, não o disco de 1979 em si, mas um relançamento de 2018. Posso afirmar que os sulcos nessa parte da obra são exatamente iguais aos da foto logo acima do vídeo. O mesmo chegou em minhas mãos na última quinta-feira (16/07) e já o ouvi em seguida - aliás, eu queria ter filmado um clipe dessa parte, mas eu estava tão nervoso com a possibilidade de não conseguir ouvir o disco por ajustes errados no toca-discos que fiquei tremendo e não consegui fazê-lo. Mas, por sorte, meu toca-discos, um Numark TTUSB comprado em 2012 (acho), tocou TODA a saraivada de canhões, SEM pular e SEM danificar nenhum alto-falante do meu aparelho de som. Ufa!!! Passou no teste 💪
Um dia vou ouvi-lo novamente - e, dessa vez, filmar os canhonaços 💣💣💣💣💣 💣💣💣💣💣💣💣💣💣💣💣
Hoje é muito fácil colocar explosões numa música via Pro Tools, Nuendo e afins, mas pensem no que era isso lá em 1979... Foi uma obra-magna da gravação digital na época.
O lado B do disco é mais "comum" e contém o "Capriccio Italien" e a "Cossack Dance", duas partes sobreviventes de uma ópera inacabada, Mazeppa, também de Tchaikovsky. Um complemento "suave" a todo o estardalhaço do lado A...
Enfim, esse é um disco explosivo - no legítimo sentido da palavra. Se você tem uma cópia, boa audição - só não vá assustar a vizinhança, hehe 💣💣💣
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