Algo que sempre achei muito legal e divertido (apesar de consideravelmente difícil...) fazer como tecladista e produtor musical foi pegar obras eruditas conhecidas e revirá-las de todas as formas possíveis, mudando radicalmente os arranjos, mas ainda respeitando, na medida do possível, as melodias e harmonias originais, a fim de não perder a essência das composições. Vejo isso como uma forma moderna de homenagear os grandes mestres da música mundial - e hoje venho aqui explicar o porquê de eu optar por fazer o trabalho dessa forma ao invés de simplesmente executar as peças como são.
Me criei num meio acadêmico altamente conservador - mas, por outro lado, também haviam várias disciplinas de tecnologia musical, o que, ao meu ver, foi um refresco. Um ambiente com sintetizadores, workstations, computadores Macintosh, DAWs, no sexto andar de um instituto que primava pela perfeição absoluta na execução de obras eruditas. Nunca me passou pela cabeça viver a vida inteira em função de execução perfeita de peças complicadas para piano em recitais cujas plateias seriam tão frias quanto a Sibéria, se não mais - aliás, acabo de descobrir que esse foi um dos motivos para minha escolha por Composição. Desnecessário dizer que minhas disciplinas favoritas na faculdade de Música foram justamente as que envolviam tecnologia musical - tanto que meu trabalho de conclusão do curso foi uma peça experimental eletroacústica, não um quarteto de cordas, nem um duo de piano e violino, nem uma sinfonia, nem qualquer coisa que o valha. Meu foco durante o curso inteiro foi a soma de música e tecnologia.
Além do mais, percebi muitos músicos executando as obras da mesma maneira, praticamente igual, como se aquela fosse a única forma possível de tocá-las - e isso vinha me incomodando desde antes mesmo de eu ingressar na faculdade de Música. Ou seja, já faz muito tempo. Até onde sei, música é arte, e a arte precisa de boas doses de liberdade e criatividade para ter sua razão de existir. Claro que música também tem matemática por baixo - afinal, em teoria aprendemos que cada figura musical e sua pausa correspondente tem uma certa duração, conforme uma determinada fórmula de compasso. Mas qual o motivo de transformar a música em mera matemática, quadrada, preta e branca, sem graça, quando podemos fazê-la de todas as formas, colorida e cheia de nuances? Então, por isso prefiro não me prender à partitura da obra original, usando-a apenas como guia. E por isso também opto por rearranjar essas peças para sintetizadores, e ainda dando meu molho por cima - às vezes até acrescentando elementos que nem os próprios compositores imaginariam em suas épocas.
Abaixo vão os arranjos de obras eruditas que fiz até hoje:
Me criei num meio acadêmico altamente conservador - mas, por outro lado, também haviam várias disciplinas de tecnologia musical, o que, ao meu ver, foi um refresco. Um ambiente com sintetizadores, workstations, computadores Macintosh, DAWs, no sexto andar de um instituto que primava pela perfeição absoluta na execução de obras eruditas. Nunca me passou pela cabeça viver a vida inteira em função de execução perfeita de peças complicadas para piano em recitais cujas plateias seriam tão frias quanto a Sibéria, se não mais - aliás, acabo de descobrir que esse foi um dos motivos para minha escolha por Composição. Desnecessário dizer que minhas disciplinas favoritas na faculdade de Música foram justamente as que envolviam tecnologia musical - tanto que meu trabalho de conclusão do curso foi uma peça experimental eletroacústica, não um quarteto de cordas, nem um duo de piano e violino, nem uma sinfonia, nem qualquer coisa que o valha. Meu foco durante o curso inteiro foi a soma de música e tecnologia.
Além do mais, percebi muitos músicos executando as obras da mesma maneira, praticamente igual, como se aquela fosse a única forma possível de tocá-las - e isso vinha me incomodando desde antes mesmo de eu ingressar na faculdade de Música. Ou seja, já faz muito tempo. Até onde sei, música é arte, e a arte precisa de boas doses de liberdade e criatividade para ter sua razão de existir. Claro que música também tem matemática por baixo - afinal, em teoria aprendemos que cada figura musical e sua pausa correspondente tem uma certa duração, conforme uma determinada fórmula de compasso. Mas qual o motivo de transformar a música em mera matemática, quadrada, preta e branca, sem graça, quando podemos fazê-la de todas as formas, colorida e cheia de nuances? Então, por isso prefiro não me prender à partitura da obra original, usando-a apenas como guia. E por isso também opto por rearranjar essas peças para sintetizadores, e ainda dando meu molho por cima - às vezes até acrescentando elementos que nem os próprios compositores imaginariam em suas épocas.
Abaixo vão os arranjos de obras eruditas que fiz até hoje:
1. MARCHA DOS SOLDADOS, DE "O QUEBRA-NOZES" (PIOTR ILITCH TCHAIKOVSKY)
Esse foi meu primeiro arranjo, assim como meu primeiro vídeo postado no novo canal no YouTube. Lembro de ter ouvido algo semelhante como canção de demonstração de um velho teclado Casio, um CT-638, semelhante a esse:
Aqui busquei fazer minha própria interpretação do tal arranjo, que já existia, e que achei interessante.
2. PRELÚDIO OP. 28 Nº 20 EM DÓ MENOR (FRÉDÉRIC CHOPIN)
2. PRELÚDIO OP. 28 Nº 20 EM DÓ MENOR (FRÉDÉRIC CHOPIN)
Esse não foi apenas um novo arranjo para o conhecido prelúdio do compositor polonês - foi algo mais.
Eu tinha em mente fazer minha versão dessa peça ainda quando operava meu antigo canal no YouTube, lá pelos idos de 2014-2015, mas por alguma razão nunca a fiz na época, conseguindo trabalhar na mesma somente dois anos mais tarde. Como a peça original era muito curta, optei por tocá-la duas vezes: a primeira no tom original e a segunda meio tom acima (dó# menor), colocando uma pequena transição entre ambas e modificando ligeiramente o final na segunda execução. Aqui também usei a última frase como introdução, e mais: o arranjo também muda no decorrer do tempo, começando lento e terminando rápido. Foi um caso de muita manipulação da peça, mas ainda tentando conservar a essência da obra original.
3. SOLFEGGIETTO (CARL PHILIPP EMANUEL BACH)
Eu tinha em mente fazer minha versão dessa peça ainda quando operava meu antigo canal no YouTube, lá pelos idos de 2014-2015, mas por alguma razão nunca a fiz na época, conseguindo trabalhar na mesma somente dois anos mais tarde. Como a peça original era muito curta, optei por tocá-la duas vezes: a primeira no tom original e a segunda meio tom acima (dó# menor), colocando uma pequena transição entre ambas e modificando ligeiramente o final na segunda execução. Aqui também usei a última frase como introdução, e mais: o arranjo também muda no decorrer do tempo, começando lento e terminando rápido. Foi um caso de muita manipulação da peça, mas ainda tentando conservar a essência da obra original.
3. SOLFEGGIETTO (CARL PHILIPP EMANUEL BACH)
Comecei a tocar essa peça muito cedo, ainda pré-adolescente, em ritmo lento/moderado. Só muitos anos depois fui descobrir que essa é uma composição curta e rápida, em andamento Prestissimo, após ver o vídeo de um conhecido meu, também pianista/tecladista, executando-a, e após constatar essa informação na partitura. Assim que ouvi a execução dele, na hora imaginei um arranjo tipo punk rock, e o resultado foi esse...
4. MORNING MOOD, DE "PEER GYNT" (EDVARD GRIEG)
4. MORNING MOOD, DE "PEER GYNT" (EDVARD GRIEG)
Outro arranjo que eu vinha pensando em fazer para o antigo canal no YouTube, por volta de 2015. Dessa vez optei por não fugir muito da obra original, mantendo a maior parte de suas características. O que fiz aqui foi acrescentar bateria eletrônica tipo Roland TR-808 e enfatizar sons de sintetizadores.
5. SONATA OP. 13 Nº 8 "PATÉTICA", SEGUNDO MOVIMENTO (LUDWIG VAN BEETHOVEN)
5. SONATA OP. 13 Nº 8 "PATÉTICA", SEGUNDO MOVIMENTO (LUDWIG VAN BEETHOVEN)
Mais uma vez optei por não fugir muito à obra original, mantendo o mesmo andamento e tentando, na medida do possível, seguir o mesmo contorno rítmico. A única diferença foi eu ter optado por usar o mesmo contorno no início e no final, enquanto que na obra original o compositor usou colcheias simples na primeira execução da melodia principal e quiálteras na segunda.
6. "DER HÖLLE RACHE KOCHT IN MEINEM HERZEN", ÁRIA DA OPERETA "A FLAUTA MÁGICA" (WOLFGANG AMADEUS MOZART)
6. "DER HÖLLE RACHE KOCHT IN MEINEM HERZEN", ÁRIA DA OPERETA "A FLAUTA MÁGICA" (WOLFGANG AMADEUS MOZART)
Esse é meu arranjo mais recente - e também foi o mais difícil de fazer. Aliás, provavelmente foi a coisa mais difícil que já fiz durante todo esse tempo postando vídeos, contando os canais antigo e atual.
Eu conhecia apenas o trecho mais famoso da melodia, aquele das várias notas repetidas e do arpejo em fá maior em staccato, porque havia escutado uma vez num certo comercial de carro há muitos anos atrás. E também porque devo tê-lo escutado no filme "Amadeus" (1984). Em ambos os casos achei a melodia muito leve e graciosa no começo - então fui atrás do texto da ária e descobri o completo contrário: é uma letra sobre ódio, vingança e morte. Na hora imaginei fazer um arranjo o mais pesado possível, acrescentando o máximo de diferentes timbres e texturas que eu pudesse. Mas esse trabalho demorou...
Aumentei o andamento dos originais 140bpm para 164bpm - o que não apenas aumentou a tensão da coisa toda, como também aumentou o grau de dificuldade da execução, e isso está presente no vídeo. Nesse arranjo imaginei como seria se essa peça fosse tocada por uma banda tipo Nightwish, After Forever ou Epica, por exemplo - e uma das coisas que tentei fazer foi simular uma soprano no teclado, o que me exigiu bastante pesquisa de timbres e muito uso da roda Modulation, procurando encaixar o vibrato onde a cantora provavelmente o faria.
Esse foi um trabalho insano... Passei vários dias trancado no home studio, só em função desse arranjo. Assim que terminei tudo, precisei descansar e, principalmente, pegar um ar lá fora, já que passei todo esse tempo de porta e janelas fechadas.
Então, esse é meu jeito de prestar homenagem aos grandes compositores, através de tecnologia musical e liberdade criativa. Simplesmente não vejo por que seguir o senso comum quando o assunto é execução de música erudita. Há quem não goste, quem não abra mão da execução tradicional dessas peças - e até mesmo quem chame esse meu trabalho de "heresia", "falta de respeito", mas nem ligo, pois acho que tocar música erudita é muito mais que apenas ler partituras. Prefiro pensar fora da caixa.
Eu conhecia apenas o trecho mais famoso da melodia, aquele das várias notas repetidas e do arpejo em fá maior em staccato, porque havia escutado uma vez num certo comercial de carro há muitos anos atrás. E também porque devo tê-lo escutado no filme "Amadeus" (1984). Em ambos os casos achei a melodia muito leve e graciosa no começo - então fui atrás do texto da ária e descobri o completo contrário: é uma letra sobre ódio, vingança e morte. Na hora imaginei fazer um arranjo o mais pesado possível, acrescentando o máximo de diferentes timbres e texturas que eu pudesse. Mas esse trabalho demorou...
Aumentei o andamento dos originais 140bpm para 164bpm - o que não apenas aumentou a tensão da coisa toda, como também aumentou o grau de dificuldade da execução, e isso está presente no vídeo. Nesse arranjo imaginei como seria se essa peça fosse tocada por uma banda tipo Nightwish, After Forever ou Epica, por exemplo - e uma das coisas que tentei fazer foi simular uma soprano no teclado, o que me exigiu bastante pesquisa de timbres e muito uso da roda Modulation, procurando encaixar o vibrato onde a cantora provavelmente o faria.
Esse foi um trabalho insano... Passei vários dias trancado no home studio, só em função desse arranjo. Assim que terminei tudo, precisei descansar e, principalmente, pegar um ar lá fora, já que passei todo esse tempo de porta e janelas fechadas.
Então, esse é meu jeito de prestar homenagem aos grandes compositores, através de tecnologia musical e liberdade criativa. Simplesmente não vejo por que seguir o senso comum quando o assunto é execução de música erudita. Há quem não goste, quem não abra mão da execução tradicional dessas peças - e até mesmo quem chame esse meu trabalho de "heresia", "falta de respeito", mas nem ligo, pois acho que tocar música erudita é muito mais que apenas ler partituras. Prefiro pensar fora da caixa.
Comentários
Postar um comentário
Quer comentar algo?