2009, um ano de saídas e entradas



O dia 20 de julho de 2009 foi um dos mais pesados e sofridos da minha vida musical: era chegada a hora de me despedir do Centro de Artes Legato. Desde minha entrada lá em março de 1994, quando a instituição ainda era uma pequena escola de música dentro do Colégio Maria Auxiliadora, em Canoas-RS, ainda sem nome definido, até o momento da despedida, foram quinze anos recheados de muitas histórias para contar...
Nesse período vivenciei um sem-número de experiências. Entrei para fazer aulas de teclado com a Profª. Renata Flores da Silva. Como eu já havia estudado piano antes, meu período no teclado durou pouco, então logo voltei ao piano, primeiro ainda com a Profª. Renata, depois com o Prof. Rodolfo Wulfhorst. Essa foi a fase na qual minha técnica mais se desenvolveu; tanto que, não demorou muito, fui convidado a integrar um grupo instrumental, criado pela Profª Renata, chamado Grupo Minueto, em 1997. No entanto, começaram a entrar cantores nesse grupo, até que, em dado momento, o Grupo Minueto se tornou Grupo Vocal Em Canto. Eu era o único instrumentista remanescente do antigo Grupo Minueto, então me tornei o pianista acompanhador do novo Grupo Vocal Em Canto. E este foi o início de uma longa parceria entre eu e a Profª. Renata, que gerou trabalhos ainda maiores: o Grupo Vocal do Instituto Pestalozzi, em 1999 (trabalho que deu origem à causa da inclusão social no então Curso Interativo de Música Legato, que viria a se tornar o Centro de Artes Legato alguns anos mais tarde); o Musical Saudade, apresentado em Porto Alegre em 2000 e 2003; o Grupo Vocal do Colégio Cristo Redentor, criado em 2001; o Grupo Artístico da ACADEF, criado em 2005, e que viria a se tornar o Grupo Artístico da Associação Legato tempos depois; o Musical "O Corcunda de Notre-Dame", desenvolvido e apresentado em 2007; apenas para citar alguns.
Foi muito triste ter que me despedir do Centro de Artes Legato em julho de 2009, pois não apenas exerci esse trabalho voluntário de pianista acompanhador do Grupo Artístico por todo esse tempo; também conheci muitos diferentes lugares (inclusive no exterior), fiz muitos amigos, e, de alguma forma, junto com a Profª. Renata, me tornei uma referência para todo aquele grupo de pessoas. Minha vida estava tão ligada ao Centro de Artes Legato que, nesse recital do dia 20 de julho de 2009, realizado na Fundação Cultural de Canoas, parecia que um pedaço de mim havia me deixado. Era notória minha tristeza. Eu tentava não mostrar, disfarçando sorrisos ao público, mas por dentro eu estava arrasado. Foi o fim de uma longa era de arte e ativismo para mim.
Por outro lado, eu também precisava de renovação. Era mais que natural eu querer, após quinze anos de trabalho musical voluntário no Centro de Artes Legato, respirar novos ares. Afinal, eu já estava nos meus 25 anos de idade; eu sentia que meu ciclo lá dentro estava terminando, e que era hora de dar chance a alguém mais jovem mostrar serviço. Assim que me despedi, o posto foi tomado provisoriamente pelo meu ex-professor de piano, Rodolfo Wulfhorst, mas não muito tempo depois, minha antiga função passou a ser exercida pelo pianista e acordeonista André Vicente.

Eu durante minha última participação num evento do Centro de Artes Legato - sou o segundo a partir da esquerda

Após me despedir do Centro de Artes Legato, eu estava sem trabalho fixo como músico, só participando de um ou outro evento quando me chamavam. Eu queria descansar após tanto tempo voltado ao trabalho na instituição, mas um dia recebi uma ligação telefônica de um número que até então eu não conhecia. Atendi a chamada e do outro lado havia uma voz masculina; era Chris Fara, guitarrista e um dos fundadores da banda BettyFull.
Durante a ligação foi agendado um encontro num shopping do centro de Porto Alegre. Lá, eu e o Chris conversamos bastante, eu sobre meu trabalho até então, ele sobre o trabalho da banda, e no final das contas fui convidado para fazer um teste. Aceitei o convite, mas depois vi que o negócio era bem tenso: tive que tirar dezenas de músicas para o próximo show da banda - tudo em apenas duas semanas.
Chegando em casa, não deu outra: passei um longo tempo apenas ouvindo essas músicas, tentando extrair todas as partes de teclado. O repertório não era nada fácil: só música dos anos 80, e como se sabe, essa época foi recheada de sintetizadores. Eu não estava acostumado a isso, pois sempre toquei piano ou, no máximo, algumas coisas de teclado conforme a necessidade. Mas dessa vez foi diferente e eu precisava me adaptar. Não apenas tive que conseguir tocar as músicas, mas também precisei renovar o set de instrumentos. Corri atrás de sintetizadores e um simulador de Hammond B3 para dar conta do recado.
Enfim, chegou o dia do teste, e eu estava bastante nervoso, como não poderia deixar de ser. Afinal, a banda estava super afiada, e aquele foi meu primeiro ensaio com a mesma. Mas no final deu tudo certo, a sincronia foi perfeita e bastava esperar o dia do show.
Aí chegou o dia 16 de outubro daquele ano. Era o dia do show da BettyFull. Eu estava pilhado para tocar aquele repertório, assim como para estrear meu novo set de instrumentos na época. Num primeiro momento estive na residência do Chris, junto com sua esposa, para relembrar de alguns detalhes das músicas. Depois, fomos direto ao local do show. Chegando lá, meu coração bateu em disparada, mais rápido que nunca, e suei frio demais... ERA O BAR OPINIÃO.
Eu já sabia a respeito do Opinião e de seu palco enorme. Também já sabia que muitos artistas famosos gravaram seus CDs e DVDs ao vivo lá. Mas nunca imaginei que um dia EU estaria naquele palco, junto com uma banda que há anos animava as noites de Porto Alegre. Aquele dia foi demais... Minha adrenalina estava nas alturas, embora eu tentasse manter a calma.
Então, começou o show, e eu não tinha como estar mais louco. Minha forma de tocar mudou muito: até então eu fazia aquele estilo "clássico", comportado mesmo, mas naquele show toquei forte, fazendo muitos gestos com as mãos e os braços, pulando, suando muito... Ao final do show eu estava podre de cansado, mas ao mesmo tempo extremamente feliz, pois realizei meu maior sonho até então: tocar naquele enorme palco do Opinão.
Aquele foi o começo de um dos meus maiores e mais complexos trabalhos como músico profissional.

Eu durante meu primeiro show com a banda BettyFull, no Opinião (POA-RS), em 2009

Conclusão: tive momentos de dor e alegria em 2009. Dor por ter deixado para trás um trabalho tão bonito, ao qual me dediquei por quinze anos; alegria por ter finalmente pisado num dos maiores palcos do país pela primeira vez na vida.

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