Todo mundo acha lindo quando tem um pianista/tecladista tocando por aí, não? O músico parece se divertir diante do instrumento, e seus dedos vão e vem como se fossem borboletas num jardim, voando para todos os lados. Tocar piano/teclado parece uma tarefa bem automática aos olhos dos leigos. Mas, na vida real, a coisa não é bem assim.
Uma das coisas mais normais que existem é um músico super cansado após tantos compromissos, em especial quando há muitos ensaios e shows em sequência, às vezes dois ou três por dia. E não é para menos: fadiga mental, exaustão muscular, muitas noites mal dormidas (porque o show termina às duas da madrugada e já às oito da manhã tem gravação de single, por exemplo), descontrole alimentar (porque dadas as circunstâncias da agenda fica quase impossível manter um controle rigoroso da alimentação), distância da família e dos amigos (porque a agenda não permite maior proximidade)... Sim, sei que isso acontece com qualquer músico profissional que se preze, mas no caso de pianistas/tecladistas, a situação parece ficar ainda mais tensa, porque tocar piano/teclado exige muita coordenação motora fina e, consequentemente, pode acabar desgastando os tendões - em casos mais extremos, até mesmo rompendo ligamentos dos dedos, se não houver um aquecimento apropriado antes do ensaio/show/etc. e um alongamento após o mesmo. Fora que, além disso, no caso específico de tecladistas, sempre tem aquela preocupação com uma possível descarga elétrica que pode acabar com toda a programação do(s) instrumento(s) e não haver tempo hábil para recuperar tudo, além da possibilidade de ocorrerem problemas nos cabos e por aí vai. E, claro, se for gravação de DVD ao vivo, por exemplo, é proibido errar. Fora a parte não-musical do trabalho: lidar com produtores, empresários, contratantes, burocracia, vish...
Ou seja: músicos nunca estão tranquilos, sempre há um certo nível de stress. E muitas vezes o stress fica tão alto que a pessoa chega num ponto de simplesmente não aguentar mais, chutar o balde e dizer chega. Já aconteceu comigo, não dessa forma, mas foi terrível.
Lembro de um determinado período de tempo, acho que entre o meio e o final de 2011, no qual eu ainda estava na banda BettyFull - e ao mesmo tempo no último semestre da faculdade de Música na UFRGS. Imaginem o que foi para mim ter que lidar com o trabalho de conclusão e uma agenda superlotada de shows ao mesmo tempo. Sim, cheguei num ponto no qual eu tinha shows todos os dias, às vezes chegando a dois por dia. E, somado a tudo isso, eu ainda precisava desenvolver o trabalho final da faculdade - que eu ainda nem sequer tinha começado porque a agenda da banda não deixava, e eu dependia dos cachês da banda para sobreviver. Naturalmente que a bolha iria estourar, e aconteceu. Já em novembro daquele ano, pouco antes de mais um show da BettyFull... eu chorei. Não era de alegria/emoção por estar numa banda super prestigiada na época; era um misto de tristeza e raiva por potencialmente não conseguir cumprir com meus compromissos acadêmicos e, assim, jogar fora uns dez anos de faculdade (contando o período que fiquei fora em função de uma doença quase fatal). O pessoal da banda foi conversar comigo para ver o que estava acontecendo, mas eu não conseguia falar direito, de tão emocionalmente abalado que eu estava. Mas, mantendo a estatura de músico profissional, fui lá e fiz o show - minha participação foi um desastre, mas não tinha como não ser, do jeito que eu me encontrava. Resultado: no dia 15 de novembro, acabei saindo da banda, a fim de me concentrar unica e exclusivamente no trabalho de conclusão da faculdade. No fim das contas, o trabalho foi aprovado e consegui me formar. Mas também, a fim de compensar todo o stress anterior, decidi dar um belo tempo durante uma boa parte de 2012, saindo de perto dos instrumentos e pensando em aproveitar mais a vida. Só voltei a tocar no final do mesmo, já mais tranquilo, maduro e renovado.
Sim, ser músico profissional bem sucedido tem lá suas vantagens: não há jornada de quarenta horas semanais, nem local fixo para trabalhar, se viaja bastante, e a sensação de liberdade proporcionada aí é única. Porém, isso não quer dizer que a vida de um músico seja linda e fácil - muito pelo contrário, é de um cansaço gigantesco, gera muita discussão, muita estafa, muitas brigas, e às vezes é mesmo necessário largar tudo em certos momentos e ter um tempo maior para si. Parar, de vez em quando, a fim de recarregar as energias, é muito benéfico. Claro, não se pode esquecer que é músico, mas também não é legal virar um escravo da profissão. Não falo aqui só sobre pianistas/tecladistas, falo sobre todos os músicos - e eu poderia falar aqui sobre qualquer profissional, de qualquer área.
Músicos também precisam de férias, quando necessário.
Uma das coisas mais normais que existem é um músico super cansado após tantos compromissos, em especial quando há muitos ensaios e shows em sequência, às vezes dois ou três por dia. E não é para menos: fadiga mental, exaustão muscular, muitas noites mal dormidas (porque o show termina às duas da madrugada e já às oito da manhã tem gravação de single, por exemplo), descontrole alimentar (porque dadas as circunstâncias da agenda fica quase impossível manter um controle rigoroso da alimentação), distância da família e dos amigos (porque a agenda não permite maior proximidade)... Sim, sei que isso acontece com qualquer músico profissional que se preze, mas no caso de pianistas/tecladistas, a situação parece ficar ainda mais tensa, porque tocar piano/teclado exige muita coordenação motora fina e, consequentemente, pode acabar desgastando os tendões - em casos mais extremos, até mesmo rompendo ligamentos dos dedos, se não houver um aquecimento apropriado antes do ensaio/show/etc. e um alongamento após o mesmo. Fora que, além disso, no caso específico de tecladistas, sempre tem aquela preocupação com uma possível descarga elétrica que pode acabar com toda a programação do(s) instrumento(s) e não haver tempo hábil para recuperar tudo, além da possibilidade de ocorrerem problemas nos cabos e por aí vai. E, claro, se for gravação de DVD ao vivo, por exemplo, é proibido errar. Fora a parte não-musical do trabalho: lidar com produtores, empresários, contratantes, burocracia, vish...
Ou seja: músicos nunca estão tranquilos, sempre há um certo nível de stress. E muitas vezes o stress fica tão alto que a pessoa chega num ponto de simplesmente não aguentar mais, chutar o balde e dizer chega. Já aconteceu comigo, não dessa forma, mas foi terrível.
Lembro de um determinado período de tempo, acho que entre o meio e o final de 2011, no qual eu ainda estava na banda BettyFull - e ao mesmo tempo no último semestre da faculdade de Música na UFRGS. Imaginem o que foi para mim ter que lidar com o trabalho de conclusão e uma agenda superlotada de shows ao mesmo tempo. Sim, cheguei num ponto no qual eu tinha shows todos os dias, às vezes chegando a dois por dia. E, somado a tudo isso, eu ainda precisava desenvolver o trabalho final da faculdade - que eu ainda nem sequer tinha começado porque a agenda da banda não deixava, e eu dependia dos cachês da banda para sobreviver. Naturalmente que a bolha iria estourar, e aconteceu. Já em novembro daquele ano, pouco antes de mais um show da BettyFull... eu chorei. Não era de alegria/emoção por estar numa banda super prestigiada na época; era um misto de tristeza e raiva por potencialmente não conseguir cumprir com meus compromissos acadêmicos e, assim, jogar fora uns dez anos de faculdade (contando o período que fiquei fora em função de uma doença quase fatal). O pessoal da banda foi conversar comigo para ver o que estava acontecendo, mas eu não conseguia falar direito, de tão emocionalmente abalado que eu estava. Mas, mantendo a estatura de músico profissional, fui lá e fiz o show - minha participação foi um desastre, mas não tinha como não ser, do jeito que eu me encontrava. Resultado: no dia 15 de novembro, acabei saindo da banda, a fim de me concentrar unica e exclusivamente no trabalho de conclusão da faculdade. No fim das contas, o trabalho foi aprovado e consegui me formar. Mas também, a fim de compensar todo o stress anterior, decidi dar um belo tempo durante uma boa parte de 2012, saindo de perto dos instrumentos e pensando em aproveitar mais a vida. Só voltei a tocar no final do mesmo, já mais tranquilo, maduro e renovado.
Sim, ser músico profissional bem sucedido tem lá suas vantagens: não há jornada de quarenta horas semanais, nem local fixo para trabalhar, se viaja bastante, e a sensação de liberdade proporcionada aí é única. Porém, isso não quer dizer que a vida de um músico seja linda e fácil - muito pelo contrário, é de um cansaço gigantesco, gera muita discussão, muita estafa, muitas brigas, e às vezes é mesmo necessário largar tudo em certos momentos e ter um tempo maior para si. Parar, de vez em quando, a fim de recarregar as energias, é muito benéfico. Claro, não se pode esquecer que é músico, mas também não é legal virar um escravo da profissão. Não falo aqui só sobre pianistas/tecladistas, falo sobre todos os músicos - e eu poderia falar aqui sobre qualquer profissional, de qualquer área.
Músicos também precisam de férias, quando necessário.
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