O que é ser tecladista de banda de reggae



O mercado musical é um monstro hostil e traiçoeiro. Quem toca profissionalmente em bandas sabe como funciona: tem que se manter atualizado, o tempo todo, acompanhando todas as tendências - basicamente é viver sempre na vanguarda. Se o ano corrente é 2019, o músico profissional tem que estar em 2020, já correndo para 2021 (em alguns casos até 2022). Isso se traduz em todos os aspectos: técnicas de execução, aprimoramento do repertório, atualização do set de instrumentos (importantíssimo) etc.. É uma roda que nunca para de girar, e gira cada vez mais rápido - só os realmente muito fortes e persistentes conseguem acompanhar o ritmo. Não à toa, muitos potenciais músicos profissionais abandonaram o barco e hoje exercem outras atividades.
No entanto, quando se trata de banda de reggae, a situação me parece bem diferente. Toco em duas (Instinto Roots e A Rud, ambas daqui de Canoas-RS), já toquei numa outra antes (Tavahua, também daqui da cidade), e o mercado do reggae se mostrou para mim num ritmo distinto, mais tranquilo, mas não menos promissor. Outra coisa é quanto aos instrumentos: enquanto que na grande maioria das bandas o tecladista se obriga a acompanhar todas as novas tecnologias, pela própria exigência do repertório (e isso pode lhe trazer sérios problemas financeiros em caso de má escolha de instrumentos), nas bandas de reggae o mesmo pode usar o(s) instrumento(s) que quiser, não se importando muito com marcas e modelos - não faz diferença usar Yamaha, Korg, Roland ou mesmo marcas mais desconhecidas, como Medeli ou Revas, por exemplo, quando o assunto é ter aquele som de piano bem estalado, típico dos contratempos do estilo. Também não há grandes exigências quanto aos demais timbres necessários (órgão, sintetizador): basta o tecladista escolher aqueles que julga encaixarem-se melhor na música.
A foto lá em cima é um registro meu durante um show da banda Instinto Roots num pub na cidade de Feliz-RS. Repare nos instrumentos: um Korg KingKORG para o som de piano (ele tem um preset muito usado no reggae, conhecido entre os tecladistas como "piano do M1"), um Casio XW-P1 para os sons de órgão (ele possui um "Drawbar Mode", voltado a isso mesmo) e um Yamaha MX61 para todo o resto (ele é o "Bom Bril" do meu set - 1001 utilidades). Pode ver que não foi necessário usar workstation, nem iPad com plug-ins, nem laptop, nem nada de mais; só os três teclados ali e deu. O detalhe foi que já fiz shows com essa mesma banda, assim como com A Rud, usando menos que isso - e os shows transcorreram normalmente. Vê se eu poderia ter toda essa simplicidade numa banda de baile/eventos, por exemplo...
Outra característica marcante desse meio é nas letras: enquanto que em muitos outros estilos (salvo algumas exeções, como o rock, por exemplo) o mercado fala mais alto, a função do reggae é transmitir mensagens de paz, harmonia e consciência social para seus espectadores. Nesse caso, o que importa mais, transmitir a palavra ou ostentar marcas e modelos no palco?
Reggae é simplicidade, e isso se reflete em tudo à volta: sonoridade, instrumentos, letras, figurino, palco etc.. Quando se trata de teclados em reggae, não poderia ser diferente.
Abaixo, um clipe curto, no qual acompanho a canção "One Step Forward" (Tiken Jah Fakoly feat. Max Romeo), usando um simples teclado arranjador Medeli mc780:


Viu como é simples?
Agora o vídeo original, para efeito de comparação:


E aí, qual a necessidade de complicar onde não precisa? Sejamos simples, não apenas musicalmente, mas na vida.

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