Vou fazer uma pergunta aos músicos que porventura estejam lendo este texto, sejam eles quem forem, se pianistas, tecladistas, guitarristas etc.: vocês têm o hábito de restaurar seus instrumentos, deixando-os sempre impecáveis? Ou vocês são mais do tipo que, quando começa a ter qualquer probleminha, já saem trocando?
Pergunto porque, há não muito tempo atrás, eu era parte do segundo grupo. Quando eu estava usando um determinado instrumento, fosse onde fosse, se em casa, num estúdio, no palco etc., e eu percebia qualquer coisinha acontecendo com o mesmo, eu seguia um conselho que alguém, em um famoso fórum de discussão sobre música, dizia, não necessariamente com essas palavras: "meu, teclado quando dá problema é dor de cabeça certa, é melhor trocar". E era o que eu fazia.
Até que, em algum ponto de 2019, acho que foi em agosto, deu aquela notícia da imensa devastação na Amazônia, e aquilo me fez pensar muito sobre o quão prejudiciais são o plástico, os metais e, principalmente, o lixo eletrônico (placas, ICs e afins) ao meio ambiente. E aquilo também fez despertar em mim a consciência de que, quanto mais eu puder restaurar meus instrumentos e deixá-los sempre em dia, prolongando suas vidas úteis o máximo que eu puder, só trocando-os quando realmente não houver mais qualquer outra alternativa (e ainda assim destinando o material à reciclagem), melhor. Aliás, isso me fez economizar muito também; enquanto eu pagaria, digamos, R$5.000,00 por um novo sintetizador, posso pagar muito menos que isso pela restauração de algum que já tenho em mãos, e que só precisa de alguns reparos. Desde o momento em que adotei esse princípio, meu problema com GAS (sigla para Gear Acquisition Syndrome, ou "síndrome de aquisição de equipamento", muito comum entre tecladistas - assunto para uma futura postagem) já reduziu bastante, pois qual o motivo de eu botar fora um instrumento que faz tudo o que preciso, sendo que ele apenas pede por uma manutençãozinha, ou até por uma boa limpeza?
Vou falar sobre um exemplo bem recente: esses tempos levei meu Korg KingKORG à autorizada para substituir algumas teclas que estavam com ranhuras profundas, e também para ver se havia a possibilidade de troca do painel frontal, que possui um arranhão leve. O painel não foi possível trocar por falta da peça, mas as teclas foram substituídas, e aqui está o resultado:
Outro exemplo ainda mais recente: meu piano digital Kurzweil KA-90 começou a ter uns barulhos esquisitos em algumas teclas. Levei a duas autorizadas, mas as mesmas não conseguiram resolver o problema. Acham que vou jogar fora o instrumento? Jamais! Vou é encaminhar a um especialista em reformas de instrumentos eletrônicos, que é amigo meu, e que já fez verdadeiros milagres nesse sentido, como recuperar plenamente um sintetizador que já não era mais que sucata, só para citar um exemplo. O custo pode ser alto, mas ainda assim, será muito menos que comprar um novo - e, conseguindo reparar as teclas do KA-90 com sucesso, já terei um excelente stage piano em mãos e não precisarei me preocupar com um novo tão cedo assim.
Adotar esse novo princípio de manutenção, restauração e reciclagem dos instrumentos é uma ótima forma de os músicos contribuírem para seus próprios orçamentos e para o planeta. Se você é do tipo que, assim que surge qualquer coisinha no(s) seu(s) instrumento(s), já pensa em comprar novo(s) e descartar o(s) antigo(s), por favor, pense mais a esse respeito e veja a possibilidade de mudança de hábitos. Para mim, fez um bem enorme.
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