Me rebelando contra o "sistema" - a decisão de só usar instrumentos que (quase) ninguém usa


 
Se há um assunto muito recorrente neste blog, assim como nos meus perfis nas redes sociais, é meu incômodo quanto à padronização imposta aos pianistas/tecladistas em se tratando de instrumentos. Aliás, isso não é de agora - minha "rixa" vem de muitos anos, desde o dia em que vi tecladistas iniciantes sendo literalmente massacrados num certo fórum de música porque não tinham o instrumento "da moda" na época. Toda essa barbaridade que vi por lá me fez pensar: todo músico profissional foi iniciante um dia. E todos começaram com instrumentos bem mais simples - inclusive porque nem mesmo sabiam se realmente teriam ou não uma carreira nessa área, haja visto que instrumentos musicais são super caros e muitas vezes a vida coloca barreiras intransponíveis nos sonhos de qualquer um. Os poucos que conseguem construir uma carreira musical profissional bem sucedida ainda precisam enfrentar um monte de chacota, e o pior: principalmente por parte de colegas de profissão, que possuem os instrumentos "tops da hora" e que ridicularizam quem quer que use qualquer coisa diferente do que foi convencionado como "ideal" (na visão deles, claro - mas consideram sua visão como verdade absoluta).
O título deste texto é uma referência a algo bem comum em muitas letras de reggae, punk rock etc., e também muito presente em grupos que lutam bravamente contra as normas sociais vigentes. Rebelar-se contra o tal "sistema". Não se submeter a regras e convenções. Fazer as coisas do seu jeito, não como os outros mandam. Tenho aplicado esse princípio na minha carreira desde sempre, ao tirar proveito daqueles instrumentos dos quais todo mundo desdenha, ora porque são "feios", ora porque "não é o que todo mundo usa" (e desde quando sou todo mundo?) etc.. Em suma: ser você mesmo - traduzindo isso em termos musicais.
 
O que é que tem em usar um arranjador Yamaha no palco?
(fonte: arquivo pessoal, 2010)

Já passei por muitas "febres": a do Kurzweil SP76 (início dos anos 2000; só comprei um em 2007, quando a "febre" já tinha passado), a do Yamaha PSR-3000 (meio dos anos 2000 - já teve muita briga num fórum por causa desse instrumento), a do Korg Kronos (início dos anos 2010 - quem não tinha um era considerado "mau tecladista", pode?!), e atualmente estou passando incólume pela "febre" dos Nord (desde meados dos anos 2010 à atualidade - nunca vi "febre" maior que essa, e nem sei se vai acabar um dia). Só para deixar bem claro que não tenho absolutamente nada contra nenhum desses instrumentos em si - são todos ferramentas, e sei que são todos muito bons. Meu "ranço" é contra a forçação de barra para que todos os tecladistas do mundo usem o mesmo instrumento, como se fosse o único "certo", e como se todos os outros fossem "errados".
 
Se até o filho do Carlos Santana já usou teclados simples, por que eu não posso?
(créditos: Jill Agusto - fonte)
 
A questão é que agora levarei essa "rebeldia tecladística" a novos patamares. Nada de seguir modas, tendências, nem conselhos de ninguém, quando o assunto for montar o set de instrumentos. Nada de comprar teclados famosos só por aparência, status e/ou "motivos profissionais" (como se um tecladista não fosse profissional só porque não tem ao menos um desses, né...). Se eu já fazia isso antes, conseguindo surpreender muita gente ao obter resultados sonoros únicos dentro da banda por tentar extrair o melhor possível dos instrumentos que eu tinha em casa e "que ninguém usava" (eles diziam...), agora é que farei isso de uma forma ainda mais radical: ninguém jamais me verá nos palcos com sets formados por instrumentos "padrão da indústria". Meu set será mais inusitado a cada ano. Não se espantem se eu aparecer no palco com um Yamaha PSR-500, por exemplo - se ele tem um ótimo timbre de Vox Continental, por que não usá-lo num tributo à Jovem Guarda ou para tocar The Doors? Ou até mesmo numa banda autoral? Tudo é possível. Não há por que impor limitações e convenções.
 
Um teclado CCE no meio de Korgs e um Tokai - isso é o que chamo de rebeldia...
(fonte: arquivo pessoal, 2009)

Sabem quais tecladistas me inspiram atualmente? Eloy Fritsch, Astronauta Pinguim, Fernando Costalonga, Marcelo Diniz, Carlos Trilha, Marcelo Lobato, dentre outros. Porque todos eles tem um ponto em comum: são 100% diferentes. Eles não seguem normas de qualquer espécie quando o assunto é montar seu set e ser criativo, musicalmente falando. Para mim, eles são muito mais originais do que a grande maioria dos tecladistas modernos, que fazem as mesmas coisas, usando os mesmos instrumentos, tocando da mesma forma, como se algo ou alguém dissesse a eles: "ó, é assim que vocês vão fazer". Tenho procurado montar meu set de palco observando o que esses tecladistas citados fazem - sem copiar nada, apenas tendo essas observações como mera referência, para então incorporar meu estilo nisso tudo. Busco minha própria identidade como tecladista - isso em todos os aspectos, não apenas quanto ao set de instrumentos. Nunca cederei a nenhuma pressão para usar esse ou aquele instrumento/equipamento, nem para tocar desse ou daquele jeito. Cada um faz aquilo que considera melhor - e, se considero melhor usar instrumentos totalmente fora do convencional, assim será.
Afinal, qual a graça de seguir cartilhas à risca?

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