Vocês já repararam em como homens e mulheres tecladistas são diferentes, no que se diz respeito à escolha dos instrumentos, forma de execução etc.? Já notaram que, em geral, enquanto a maioria dos homens segue um certo padrão, as mulheres já lidam com o universo das teclas de uma forma bem mais ampla e criativa?
Primeiro: montagem do set. Quando um tecladista escolhe seu(s) instrumento(s) para trabalhar, vários critérios são levados em consideração: categoria (arranjador, sintetizador etc.), tipo de tecla (leve, pesada, semipesada, tamanho padrão, mini etc..), timbre, recursos no painel, conexões, peso, dentre outros. Quando se trata de mulheres tecladistas, no entanto, percebo a presença de ainda mais critérios além destes - eu, sendo homem, não sei como descrevê-los, nem entrarei nesse mérito, mas, de toda forma, venho notando que sets de teclados construídos por mulheres me parecem bem mais diversificados e interessantes, em todos os aspectos. Talvez pelo fato de que homens e mulheres pensem de diferentes formas, então, imagino que isso também se aplique à escolha dos instrumentos. Comparando fotos de homens e mulheres tecladistas no palco (ou igreja, ou estúdio etc., enfim, no lugar onde aparecem tocando) que encontrei por aí, notei que, enquanto a maioria dos homens usa mais ou menos os mesmos instrumentos, as mulheres aparecem com sets bastante distintos uns dos outros - ao menos partindo dos perfis que acompanho no Instagram e de várias fotos que encontrei no Google Imagens. Levei em consideração apenas tecladistas profissionais, não iniciantes/amadores/hobbystas, pois, nesse último caso, é uma situação muito à parte, na qual quem ainda está aprendendo geralmente não leva em conta tantos critérios na escolha de instrumentos, a não ser facilidade de uso.
Joan As Police Woman
fonte: Wikimedia Commons
Recentemente comecei a seguir perfis de várias mulheres tecladistas, todas profissionais, e todas dedicadas às suas carreiras. De cara, o que mais me chamou atenção foi a grande diversidade de instrumentos - vi Yamaha MODX6, Casio Privia PX-5S, Casio XW-P1, Nord Electro 4 e até um Yamaha DX7-II, dentre muitos outros. Notei várias combinações de instrumentos que pessoalmente nunca vi antes - não colocarei exemplos aqui porque nesse momento não me lembro de nenhum, mas sei que elas montaram sets bem diferentes do que a grande maioria dos homens faz. Como já citei antes, talvez isso aconteça devido às muitas diferenças entre homens e mulheres na forma de pensar - o que também se aplica ao universo das teclas. No geral, notei um nível muito maior de criatividade nos sets montados por mulheres - enquanto a maioria dos homens tende a seguir o mercado na escolha dos instrumentos (o que leva a muita similaridade nos sets), parece que as mulheres levam em consideração um leque bem mais vasto de quesitos, muito além do mercado.
Parte do set da tecladista Sara Silva
Fonte: perfil no Instagram
Segundo: performance. As muitas diferenças entre homens e mulheres também se refletem na sonoridade: assistindo a vídeos de homens e mulheres tecladistas, notei que os vídeos postados por mulheres apresentaram uma sonoridade mais expressiva e dinâmica, enquanto que a maioria dos homens tendia a focar em técnica e velocidade, sem prestar muita atenção na dinâmica, nem na expressividade. Minha impressão é a de que há uma competição entre os homens tecladistas para ver quem é o mais rápido, quem é o mais ágil, quem é o mais virtuoso, quem tem o instrumento mais top etc., e, francamente, isso cansa meus olhos e ouvidos, pois acho que não adianta muita nota, muito equipamento, mas pouca musicalidade. Já no caso das mulheres, o que vi foi música, pura e simplesmente. Os vídeos de mulheres tecladistas que assisti foram infinitamente mais interessantes, os solos eram frases coerentes, a forma de tocar era mais precisa, o uso dos timbres fazia um sentido muito maior, enfim, elas superaram os homens em basicamente tudo. Tanto que atualmente incentivo cada vez mais as mulheres tecladistas a conquistarem seus espaços - é um mundo muito difícil, onde ainda vejo muito poucas mulheres presentes, mas é muito legal ver que elas estão cada vez mais conquistando postos em bandas de renome nacional e internacional, ministrando workshops de tecnologia musical, sendo patrocinadas por marcas, e o mais importante: apoiando umas às outras (coisa quase não presente entre os homens, onde, salvo raras exceções, o clima em geral é de discórdia e concorrência, em especial em certos fóruns de música). (obs.: se você está no navegador Firefox e não consegue assistir ao vídeo abaixo, desative a proteção contra rastreamento, clicando no ícone do escudo à esquerda da barra de navegação)
O que eu quis dizer com tudo isso? Que nós, homens tecladistas, temos MUITO a aprender com as mulheres. Temos que apoiarmos uns aos outros, não interessa o tipo de música que fazemos, e qual ou quais instrumentos tocamos. Temos que aprender a fazer música, não poluição sonora. Temos que aprender a lidar com dinâmica, expressividade, enquanto tocamos - as mulheres fazem isso maravilhosamente bem, e nós aqui, só preocupados com velocidade e agilidade o tempo todo. Temos que saber escolher nossos instrumentos conforme nossa consciência - elas sabem escolher seus instrumentos de acordo com suas próprias convicções, e nós aqui só querendo ostentar equipamento porque foi o que o mercado disse para fazer.
Está passando da hora de nós, homens tecladistas, mudarmos nossos conceitos - as mulheres já o fizeram muito antes de nós.
Para concluir, quero aproveitar este espaço para divulgar algumas colegas de teclas:
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