Algo que muito acontece, não apenas comigo, mas basicamente com qualquer músico que possua vários instrumentos em casa, é certas pessoas olharem para todo aquele set e ficarem perguntando, "Fulano, por que tu comprou tudo isso?". É uma pergunta que muitas vezes incomoda esses músicos, pois em geral, não há nenhuma explicação simples para tantas aquisições - e as explicações podem variar muito de um músico para outro.
Por exemplo: um guitarrista com, digamos, dez guitarras em seu home studio. Muito acontece de alguém chegar lá e ficar encucado com tudo aquilo, chegando a perguntar ao guitarrista coisas do tipo "pra que tanta guitarra, não é tudo igual?". Eu, que nem guitarrista sou, tenho uma resposta prontinha, na ponta da língua: NÃO. Cada guitarra tem suas características únicas: corpo, trastes, braço, encordoamento, tarrachas, captação etc., tudo isso e muito mais formando um conjunto harmonioso exclusivo para cada modelo, o que significa timbres diferentes. Não raro se vê guitarristas profissionais com vinte ou mais guitarras em suas casas, cada qual com sua sonoridade única - portanto, guitarra não é tudo igual.
não existem duas guitarras iguais (fonte)
O mesmo vale para a área das teclas - por que será mesmo que tantos tecladistas possuem três, quatro ou (bem) mais instrumentos? Me incluo nessa turma e posso responder com conhecimento pleno de causa: teclado não é tudo igual. Existem diversas categorias de "teclados": piano, sintetizador, órgão, arranjador, controlador etc.. Aliás, já falei sobre isso antes. E ainda, no caso dos sintetizadores: não existem dois iguais, mesmo que a marca e o modelo sejam idênticos. "Como assim, Eliseu?" Simples: pegue dois sintetizadores da mesma marca e do mesmo modelo e programe-os de formas radicalmente diferentes. O resultado será dois instrumentos distintos. Legal, né?
Vou citar dois exemplos bem recentes, de compras que fiz este ano: Roland XP-50 e Technics sx-KN930, dois instrumentos da década de 1990. "Eliseu, pra que tu quer um teclado velho que ninguém mais usa?". Alto lá! Para começo de conversa, não existe "teclado velho que ninguém mais use". O que existe é instrumento mal conservado, abandonado, jogado às traças, escondido num canto, que sofre as consequências de tudo isso. Instrumentos musicais eletrônicos são como carros: precisam SEMPRE de cuidado e manutenção. Você pode ter um carrão na garagem, mas se ele não estiver em dia com geometria e balanceamento, limpeza do tanque de combustível, motor revisado etc., em breve será somente um amontoado de metal, plástico e borracha ocupando espaço desnecessário. Assim é com instrumentos: manutenção preventiva constante.
Bom, agora falando sobre o porquê da escolha pelo Roland XP-50: porque sempre curti demais aqueles sons da Roland entre os anos 1990 e 2000, super característicos, que fizeram parte de muitos álbuns de bandas e artistas famosos da época. Aqueles timbres notáveis de cordas, vozes, pads, os quais aprecio demais - até então eu conseguia algo similar em certos SoundFonts, em especial o Fluid R3 (um dos mais famosos SoundFonts GM que existem), mas nada como ter a coisa real em mãos. O equipamento da época, os sons típicos autênticos. E ainda: fui descobrir que o XP-50 é expansível, e isso quer dizer que sim, irei atrás de placas de expansão para ele, ainda que sejam bem raras hoje em dia.
Acho que já falei bastante sobre o porquê de eu escolher certos instrumentos, por enquanto. E outra: quem sabe se, ao invés de questionar um tecladista, ou guitarrista, ou baixista etc., por que ele comprou tal instrumento quando poderia ter comprado outro mais barato e economizado grana para "coisas mais importantes", ou por que ele não escolheu aquele outro em vez desse, ou mesmo porque ele gasta dinheiro com instrumentos, você apenas aprecia, incentiva e divulga o trabalho que o mesmo faz?
Comentários
Postar um comentário
Quer comentar algo?