Música é música, não importam o local e as circunstâncias



Recentemente recebi o convite para trabalhar numa banda de reggae - isso bem no finalzinho do mês passado. Hoje a banda fará show, e para tal, precisei ouvir o repertório todo, repetidas vezes, a fim de internalizar o máximo possível de elementos musicais a tempo. E o reggae, ao contrário do que muito se diz por aí, não é fácil... Apenas parece fácil, mas se for prestar atenção em todos os pequenos detalhes no meio de cada canção, vai ver que o buraco é bem mais embaixo.
Mas enfim, o assunto desse texto não tem nada a ver com isso, embora o fato acima tenha sido a inspiração para tal.
A mente antiquada de muita gente diz que reggae tem que ser tocado apenas na praia, e só para a comunidade rastafari; que rock só serve para pubs e tem que ser para o público roqueiro; que samba só se toca em boteco; esse tipo de coisa, que pessoalmente acho horrível. Desde sempre tenho em mente que, se há uma linguagem universal, essa linguagem é a música, e a mesma deveria servir ao propósito de unir pessoas e ambientes, não de separá-los cada vez mais.
Aliás, tudo isso me fez lembrar de um álbum muito famoso, lançado pelo cantor e compositor Paul Simon, em 1986, chamado "Graceland". Vejam só que coisa interessante: foi um álbum gravado com músicos sul-africanos, em sua maioria negros. Nos dias de hoje, isso não seria nada demais, mas pensem na época e no local da gravação. O apartheid corria solto na África do Sul naquele tempo, e Paul Simon arriscou a própria vida durante a gravação de "Graceland". Só para constar: é um álbum maravilhoso, cheio de influências africanas, que prega a paz, o amor e a união entre cores, raças e credos - tudo o que o apartheid mais odiava. Numa edição mais recente desse álbum, saiu um DVD com um documentário sobre a gravação do mesmo, e não apenas o cantor, como vários dos artistas e outros profissionais envolvidos no trabalho, prestaram diversos depoimentos sobre o quão arriscado foi gravar o disco na época. Considero-o um álbum atemporal - lançado há mais de trinta anos e cuja mensagem ainda é muito pertinente. Música linda, gravada num ambiente hostil, num período idem - como pode a música ter esse poder mágico de transformar até ambientes hostis em acolhedores? Alguém me explica? Como dito no título do texto, não importa a circunstância, a música estará lá para transformar as pessoas.
Todo esse parágrafo sobre "Graceland" me serviu para eu fazer um questionamento aos leitores: não seria dever da música, conforme dito acima, pregar a paz, o amor e a união entre cores, raças e credos? E ainda repetindo mais do que foi dito acima, unir pessoas e ambientes? Por que, então, toda essa segregação musical? Por que determinados tipos de música só podem ser ouvidos por determinados tipos de pessoas, e em determinados locais? Quem inventou toda essa baboseira? Não há barreiras para a melodia, a harmonia e o ritmo, mesmo que tentem construi-las; as mesmas são facilmente ultrapassadas.
Então, que tal você aí, que se fecha para apenas um ou dois tipos de música, experimentar se abrir para outros? Que tal convidar outras pessoas de diferentes gostos para compartilhar da experiência? Que tal entender que, no fundo, no fundo, bem lá no fundinho, a música é uma só?

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